segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A ORIENTAÇÃO DO CRISTÃO





Que Deus quer guiar o povo dele e é capaz de fazê-lo é um fato. Sabemos disso pelas Escrituras, por causa das promessas (por exemplo, Provérbios 3.6: ''Ele endireitará as suas veredas''), dos mandamentos (por exemplo Efésios 5.17: ''Não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor'') e das orações (por exemplo, Colossenses 4.12: ''Como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus'')
 
Porém, como descobrimos a vontade de Deus? Alguns cristãos dizem convictos: ''O Senhor me disse para fazer isso'' ou ''o Senhor me chamou para fazer aquilo'', e como se eles tivessem uma linha exclusiva com o céu e estivessem direta e continua comunicação telefônica com Deus. Acho difícil acreditar neles. Outros pensam que vão obter uma orientação detalhada de Deus por meio das mais elaboradas interpretações das passagens da Bíblia que ignoram o sentido natural, violam o contexto e não têm base nem uma exegese segura nem senso comum.
 
Se quisermos discernir a vontade de Deus para nós, devemos começar fazendo uma distinção importante entre a vontade ''geral'' e a vontade ''particular'' dele. A vontade ''geral'' de Deus é assim chamada porque é a vontade dele para o povo que lhe pertence, em todos os tempos, enquanto a vontade  ''particular'' de Deus talvez seja assim chamada porque envolve uma vontade para um povo específico em épocas específicas. A vontade geral de Deus para nós é que nos tornemos a imagem do Filho. A vontade particular de Deus, por vez, envolve certas questões, como a escolha de um trabalho e um parceiro e o uso de nosso tempo, de nosso dinheiro e de nossa vocação.
 
Uma vez feita essa distinção, estamos prontos para repetir a pergunta sobre como descobriremos  a vontade de Deus. A vontade geral de Deus já foi revelada nas Escrituras. Não quer dizer que seja sempre fácil discernir a vontade dele nas complexas situações éticas da atualidade. Precisamos ter princípios seguros de interpretação bíblica. Precisamos estudar, discutir e orar. Ainda assim, é verdade, considerando a vontade geral de Deus, que a vontade de Deus para o povo dele está na Palavras de Deus.
 
Porém, a vontade específica de Deus não é encontrada na Bíblia, pois esta não se contradiz, e está na essência da vontade particular de Deus que ela seja diferente para diferentes membros da família dele. Certamente encontraremos na Bíblia alguns princípios gerais para orientar nossas escolhas particulares. E não nego que alguns cristãos ao longo dos nãos receberam orientações bem detalhadas por meio das Escrituras. Ainda assim, preciso repetir que essa não é a forma atual usual de Deus.
 
Usemos como exemplo a questão de um homem e do casamento. (Essa situação, claro, é igualmente aplicável a uma mulher.) A Bíblia irá guia-lo em termos gerais. Ela pode dizer que o casamento é a vontade agradável de Deus para a humanidade e que a vida de solteiro é uma exceção e não a regra; que uma das principais razões do casamento é o companheirismo e que esta é uma das qualidades a serem buscados na garota com quem você espera se casar; que como um homem cristão você tem liberdade para se casar apenas com uma mulher cristã; e que o casamento (o pleno e permanente compromisso de um homem com uma mulher) é contexto divinamente ordenado no qual o amor e a união sexual devem ser desfrutados. A Bíblia dirá a você essas e outras verdades vitais sobre a vontade geral de Deus com relação ao casamento. Porém, ela não lhe dirá se sua esposa deve ser a Jane ou a June, a Joan ou a Janet!
 
Como, então, você deve decidir essa séria questão? Existe apenas uma resposta possível, que é usar  a mente e o senso comum que Deus lhe deu. Certamente você vai orar pela direção de Deus. Se você for sábio, pedirá conselho aos parentes e outras pessoas maduras que conhece bem. Porém, no final, você precisará decidir confiando que Deus vai orientá-lo por meio de seu próprio processo mental.
 
Há uma boa justificativa espiritual para o uso da mente no Salmo 32.8-9. Esses dois versículos devem ser lidos juntos. Eles fornecem um ótimo exemplo de equilíbrio da Bíblia. O versículo 8 contém um apelo à orientação  divina: ''Eu o instruirei e o ensinarei no caminho que deve  seguir; eu o aconselharei e cuidarei de você''. De fato, é uma promessa tripla: ''Eu o instruirei, eu o ensinarei, eu o guiarei''. Porém, o versículo 9 imediatamente completa: ''Não sejam como o cavalo ou o burro, que não tem entendimento, mas precisam ser controlados com freios e rédeas, caso contrário não obedecem''. Em outras palavras, apesar das promessas de Deus nos guiar, não devemos esperar que ele o faça da mesma forma como nós guiamos cavalos e mulas. Ele não usará freios nem rédeas conosco, pois não somos cavalos, nem mulas, somos seres humanos. Temos entendimento -- algo que cavalos e mulas não têm. Então, é pelo nosso entendimento, esclarecido pela Bíblia, pela oração e pelo conselho de amigos que Deus vai nos levar ao conhecimento da vontade particular dele para nós.
 
É urgente nos atentarmos para essa advertência na Bíblia. Já vi jovens cristãos cometendo erros sérios e tolos ao agirem por impulso irracional ou ''intuição'', em vez de usarem a mente dada por Deus. Muitos poderiam fazer uso da confissão de Bernard Baruch: ''Todas as falhas que encontrei, todos os erros que cometi, todas as tolices em que me meti, na vida pública ou partícula, foram consequências de agir sem pensar''.
 
 
(Extraído do Livro:  Crer é também pensar, de John Stott,  p.57, 58, 59 e 60)








 

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